20/12/2009

Ultimas leituras

Noturno do Chile, de Roberto Bolaño, autor chileno e ícone da literatura latinoamericana contemporanea, falecido precocemente. Escrita densa, clima erudito, realmente o autor vale o que dizem dele...
Plata Quemada de Ricardo Piglia que há muito tempo queria ler. Um thriller intenso e febril, um mergulho na violencia e no caos da sociendade contemporanea.
Homem no Escuro é a nova incursão literária de Paul Auster, um romance menor, sempre com qualidades, mas muito inferior à sua produção passada
Vineland, de Thomas Pynchon, lido agora este romance de 1990 perdeu seu frescor e o seu tom beatnik soa datado. Mas, é uma curtição...

31/10/2009

Fractais e Twitter ?

Muitas especulações e teorias têm aparecido para tentar explicar a evolução das midias sociais. Uma das mais interessantes que encontrei supõe uma relação entre estas e a Teoria do Caos. Vale investigar mais a fundo... Um artigo introdutório, simples mas estimulante, pode ser visto no Digital Tonto

06/10/2009

Gibson no presente

Diferente de suas outras ficções, todas passadas num futuro impreciso, Reconhecimento de Padrões (2003) de William Gibson se passa no presente. Certamente no presente globalizado, midiático e veloz. A personagem principal, CayceP (seu nickname nos chats) é uma marketeira pós-moderna e vemos a gênese do marketing viral. Mas o livro é muito mais que isto, em certo sentido superior ao seu emblemático, cultuado e supervalorizado (porque precursor de tendencias) Neuromancer
Empoierado...

Tomando emprestado apenas o nome do muito "cool" programa de Ed Motta na Eldorado FM fui buscar reliquias musicais que se transformaram em trilhas de certas passagens da vida. Duas músicas me ocorreram de bate pronto. Uma delas, fluida e inspiradora é Spirit of Summer de Eumir Deodato. Aliás, faz parte de um album especial (Prelude, de 1972) que conta com outros músicos de primeira linha como Ron Carter, Stanley Clarke, Billy Cobham e Airto. Uma recordação e tanto...

Noutra linha, uma linda peça saída da trilha musical de Diva  (1981) - filme frances de Jean-Jacques Beinex - do compositor romeno Vladimir Cosma, intitulada Promenade Sentimentale. Minimalista,  emocionalmente rica e gravada para sempre na memória.

30/09/2009

Um catalão e a vida...

Terminando a leitura de Suicidios Ejemplares de Enrique Vila-Matas, uma aula de literatura. Onze contos que têm como mote e ligação o tema do suicidio, mas que celebram a vida, com elegancia e sensibilidade. Escreve Alan Pauls a respeito A Vila-Matas, fabulador experto en “voluntades negativas“ (dejar de escribir, desaparecer, ser nadie), le interesa sobre todo el modo paradójico en que el suicidio se instala en el corazón de una vida y le da sentido, la alegra, incluso la embellece. Um livro maior.

27/09/2009

Falando de Borges...

Recomendável a sinopse do Ensaio Autobiográfico do Digestivo Cultural

19/09/2009

Esculpindo o Tempo

Na aparência, seus filmes são herméticos, até difíceis de absorver numa primeira vista. No entanto, Tarkovski nos deixou um legado no seu livro Esculpir o Tempo (Martins Fontes) onde não só esclarece muitos destes pontos mais obscuros, como revela importantes conceitos por trás dos seus filmes de maneira didática e acessível.

Recomendo a leitura de um post de Milton Ribeiro que analisa o livro e a obra de Tarkovski. Deste texto, selecionei uma passagem emblemática:

"Mas por que lembro justamente de Tarkovski? Melhor dizendo: a que desejo me referir quando falo sobre ele? Creio que desejo apresentar um homem que podia expressar-se artisticamente escrevendo ou filmando, desejo mostrar um homem que não apenas conhecia profundamente cinema e literatura, mas também era conhecedor de música, arquitetura e artes plásticas. Era um homem raro e — nestes tempos de obtusa especialização — sinto falta destas pessoas multifacetadas, que podem nos surpreender ao dar convívio aos assuntos mais díspares dentro de um só cérebro, de um só livro ou de um só parágrafo."



É dificil escolher um filme de Tarkovski como o favorito. Cada qual tem seu encanto próprio, sua mensagem , além de imagens sempre perturbadoras. O Sacrifício (ver crítica) é o mais contemporâneo, seu legado final, lançado no mesmo ano de sua morte e que acabou reconhecido até em Cannes. Mas, a lista é repleta de filmes especiais: Stalker, Andrei Rublev, Solaris, O Espelho e Nostalgia...

Houve época em que era dificil assistir um destes filmes no Brasil exceto em pequenas mostras especiais, direcionadas para poucos aficcionados. Graças ao advento do DVD, todos estes filmes podem ser encontrados hoje sem dificuldade, permitindo assisti-los com calma e atenção.
Jogo rápido

Leituras encadeadas, leves e descomplicadas:
  • Sobre Schmidt, de Louis Begley, mais um destes romances de homens solitários (este tem 60 anos) fazendo balanço de sua vida pessoal e profissional pregressa; inclui uma tentativa de "virar o jogo". Tem pelo menos um sequencia (este livro é de 1996...)
  • Uma Comovente Obra de Espantoso Talento, de Dave Eggers : divertido, lírico e até comovente saga de dois irmãos que perdem os pais em curto espaço de tempo; baseado na vida real do autor, não por acaso egresso do "mundo MTV" e hoje responsável pela divertida e eclética publicação McSweeney's
  • Na mesma linha, dois Nick Hornby encadeados: o mais conhecido Alta Fidelidade e How to be Good. O primeiro é mais descolado e divertido, o segundo, um tanto confuso e beirando o melodrama. Veja crítica a respeito
  • Mais pretensioso (e caudaloso), As Aventuras de um Coração Humano de William Boyd. Uma jornada pelo século XX, centrada na Guerra, sob o ponto de vista de um influente escritor (fictício). Boa literatura, parece um daqueles filmes de tres horas de duração que conta uma vida do nascimento até a morte...

06/09/2009

Dia a dia

Li recentemente Encontro em Samarra, de John O'Hara. O enredo se desenvolve no periodo entre o Natal e o Ano Novo, durante a Grande Depressão e no vigor da Lei Seca. É um romance seco, ironico e , de certa forma, perturbador. Lança um olhar agudamente crítico sobre a sociedade conservadora de uma pequena cidade americana. A edição que li tem um prefácio bastante esclarecedor de John Updike, introduzindo-nos na atmosfera do livro e também traçando alguns contornos sobre a vida conturbada de John O'Hara, um prolixo jornalista e escritor envolvido com alcoolismo.

Um pouco antes, tivera meu primeiro contato com o polêmico autor frances Michel Houellebecq, cujo livro Extensão do Dominio da Luta foi para mim um prenuncio de que o autor merece, no minimo, uma atenção maior. Já estão na fila outros tres romances do mesmo autor para serem lidos em breve

Em seguida, por uma grande coincidencia, encadeei a leitura de dois autores muito diferentes, mas cujos livros escolhidos tratam de enredos surpreendentemente parecidos, tanto na forma como no conteúdo. Falo de A Tregua do uruguaio Mario Benedetti e O Mar, do irlandes John Banville. Ambos têm como personagens centrais homens de meia idade, viuvos e solitários. Os dois personagens têm relações conflituosas com os filhos, recordações vagas e doloridas de suas antigas companheiras. Os dois autores escolheram a narração na primeira pessoa, permitindo um elevado grau de introspecção nas digressões dos personagens. Embora adotando estilos literários bem diferentes, o resultado de ambos é um profundo mergulho na alma humana, São livros inquietantes. Acredito que serão melhor compreendidos por aqueles que já atingiram a maturidade e, com certeza, vão encontrar ecos das reflexões dos personagens em suas próprias vivencias. Benedetti tem um estilo mais sério, menos lírico. Propositadamente adotou a forma de um diário e, sendo seu personagem um burocrático contabilista, não poderia lhe emprestar um estilo literário mais rebuscado. Assim, a narrativa transcorre naturalmente e nos transmite um ar de singelo realismo.

Dono de um estilo mais sofisticado, Banville escolheu para seu personagem central uma atividade ligada à história da Arte e, assim, também justifica a adoção de uma narrativa bem mais complexa, cronologicamente difusa e multifacetada. Enfim, trata-se de obras ímpares e que, por caminhos diferentes, nos levam a refletir e assumir conclusões muito próximas.
(Sobre O Mar, sugiro a resenha e análise do Rascunho)

Conforme já previra, voltei ao frances Michel Houellebecq. Seguindo a ordem cronológica de seus romances, li Particulas Elementares, sua segunda obra editada por aqui. Confirma-se o seu estilo mordaz e uma avassaladora critica à sociedade ocidental da geração 68. Os personagens são alter egos do autor, têm personalidades torturadas e buscam, cada um a seu modo, as explicações sobre o sentido de suas vidas. O estilo de Houllebecq é fluente, caleidoscópico, embora às vezes faça algumas concessões desnecessárias se aproximando do grand guignol e abusando de descrições um tanto literais.Trata-se de uma leitura pertubadora que pode provocar polêmicas, mas não a indiferença.

Uma boa avaliação do livro pode ser encontrada num texto de Cristovão Tezza que, por ser também escritor, consegue fazer uma leitura peculiar

05/09/2009

Americana


Na literatura, os mais contundentes críticos do "american way of life" trataram a questão de maneira sarcástica e mordaz para se fazerem ouvir. Talvez, nesta tarefa, ninguem se esforçou mais que Kurt Vonnegut. Embora sempre lembrado por Matadouro 5 , sua obra é profícua e literariamente rica. Tem seus altos e baixos, mas tem também uma consistência pouco vista em muitos escritores contemporâneos. Sua principal caracteristica é a inserção de trechos de ficção científica na maior parte de suas obras, retratando um planeta hipotético (Trafalmadore) e seus habitantes. Este contraponto é sempre divertido, mas nunca gratuito.

Fazem parte desta tradição literária ainda John Irving, principalmente em O Mundo Segundo Garp e Joseph Heller com Ardil 22, este último um libelo antibelicista que também usa a ironia como arma.

Num contexto literário diferente, os contemporâneos Paul Auster e Don DeLillo se destacam. O primeiro livro de Paul Auster que li, A Noite do Oráculo, representou a visão de uma Nova York etérea e quase fantástica, assim como seus personagens. O que se seguiu em outros livros, de temática urbana mas poeticamente inspirados. De Don DeLillo, temos o definitivo e soturno Ruido Branco, mas outros livros conferem um peso especial ao conjunto de sua obra


Um autor menos conhecido mas que me marcou, especialmente pela novela O Feiticeiro é Jim Harrison. Tem um viés humorístico, um tanto descompromissado da realidade, mas literariamente elegante. Em outras obras, trata do interior rural dos Estados Unidos sempre poeticamente (aliás a poesia foi sua origem como escritor).
Leituras de sempre

A simples enumeração é sempre enfadonha. Listas do tipo "os 10 melhores" são sempre restritivas e injustas. Portanto, para falar dos livros e autores que me acompanham desde a adolescencia até hoje, escolhi uma ordem aleatória, onde o único critério que me propus seria o de não esquecer nenhum...

A vastidão das bibliotecas intimida, a quantidade de livros que se consegue ler durante uma vida nunca será aquela idealizada. A cada nova busca podemos ter a surpresa de descobrir um livro memorável, um clássico nunca lido ou uma edição recém lançada de um autor desconhecido,,,

Por isso, também estes registros serão sempre parciais, sujeitos a acréscimos e , por que não, reconsiderações ?

Labirintos, espelhos e tigres


Tive contato com o primeiro livro de Borges ainda cedo, contava cerca de dezesseis anos. O conto inicial de Ficções, intitulado Tlon, Uqbar, Orbis Tercius representou para mim uma reviravolta total. Provavelmente tive que ler e reler algumas passagens até entender o que lia. Mas foi uma descoberta definitiva. A partir daí, os diversos contos, tanto de Ficções como do Aleph passaram a fazer parte rotineira das minhas leituras. Dificil escolher os mais memoráveis dentre tantos.
Lembro que As Ruinas Circulares foi, de certa forma, o mais acessível. Outros traziam um nivel de erudição que eu não conseguia acompanhar na época, mas, supreendentemente, não prejudicava o seu entendimento geral. O que, constatei depois, trata-se de uma das marcas registradas de Borges, a simplicidade e a erudição andando juntas. A simplicidade traduzida nos seus textos curtos, nos adjetivos impecáveis e concisos. E o erudito, bem, basta ler algumas linhas de Borges para se deparar com ela. Ao longo dos anos fui adquirindo gradualmente suas obras completas, sempre que possivel no orginal em castelhano, além de vários ensaios biográficos que me fizessem entender melhor esta obra ampla e maravilhosa.

Não menos interessantes são as obras conjuntas de Borges com Adolfo Bioy Casares, outro ícone da literatura, do qual bastava A Invenção de Morel para colocá-lo nesta galeria.

30/08/2009

Intro

Neste Post, proponho fazer um registro, sem maiores compromissos, das minhas principais inspirações, a maioria delas oriundas da literatura, mas com um espaço reservado também para a música, o cinema e a fotografia. Talvez, inserindo aqui e acolá algum fato ou reflexão surgidos na vida diária e que mereçam ser resgatados.
Um dos prováveis beneficios deste "quase diário" eletrônico é manter um registro de idéias, situações e vivencias que de outra maneira seriam descartadas ou esquecidas...

“Every once in a while I check to see what I was doing on the same day years ago, but mostly I just keep thinking that I´ll read them 'someday', years from now, when the past is indisputably longer and more exciting than the future"

(Thomas Mallon, em “A Book of One’s Own”)

Aproveitando a citação acima, talvez a maior motivação destes registros seja adiar ao máximo o dia em que "o passado será inquestionávelmente mais longo e excitante que o futuro"...