31/12/2010

Sobre bibliotecas...


A agradável leitura de A Biblioterca a Noite de Alberto Manguel sugere a eternidade das bibliotecas e, portanto, do encanto dos livros tais como sempre foram. Um contraponto interessante é analisado na resenha que Sergio Vilas Boas faz de dois livros : Não contem com o fim do livro, de Umberto Eco e Jean-Claude Carrière e A Questão dos Livros de Roberto Darnton.
Da resenha, destaco o trecho : " Máquinas como iPads e Kindles estão aí para mostrar a grande importância que a sociedade atual confere à informação e à narrativa. Mas o registro escrito em papel ainda é o meio mais confiável de retenção e conservação do conhecimento humano. Como mídia, o livro é uma invenção revolucionária, e permanece tão insubstituível quanto a bicicleta e os óculos, em termos de funcionalidade e durabilidade (os aprimoramentos continuam, mas não alteram mais a função intrínseca)."
Ainda: sobre o uso intensivo dos gadgets mesmo nas bibliotecas tradicionais, encontrei uma curiosa nota no Library Journal que mostra a ávida busca por tomadas elétricas nas bibliotecas, que se encontram despreparadas para isto !

Enfim, até quando teremos os livros impressos ?

20/12/2010

Gadgets em 1988 ?

Curioso constatar que William Gibson, há mais de 20 anos, criava seus gadgets no universo cyberpunk e lhes imprimia caracteristicas emocionais, como em Mona Lisa Overdrive, escrito em 1988.  Por exemplo o "fantasma" , uma unidade da Maas-Neotek e, especialmente, o mini-helicóptero Dornier de monitoramento que merece adjetivos como paciente, e faz suas acrobacias flutuando nervosamente ou elevando-se suavemente...
Mais idéias garimpadas neste livro podem ser vistas neste interessante link
Tudo isto tendo como pano de fundo os cenários para lá de pós-modernos, como "réplicas de aparencia frágil das Watts Towers,  embebidas em neon, enguiam-se ao lado de bunkers neo-brutalistas revestidos com baixos relevos em bronze. Paredes de espelho refletiam bancos matinais de nuvens do Pacífico."

08/12/2010

Filmes futuristas ?


Descubro uma  lista intitulada Top Ten Futurist Movies, bem intencionada, mas muito hetereogênea. Contem unanimidades, como o clássico Metropolis, passa por alguns quase desconhecidos (Splice, de 2009) e, como não poderia deixar de ser, inclui Minority Report e Blade Runner. Aliás, este último, na minha lista, seria o Top 1, pelo conjunto, trama (baseada em Philip K.Dick), cenografia (excepcional), direção (Ridley Scott) e musica (Vangelis). Sobrando...
Recomendo o livro "Future Noir: The Making of Blade Runner"

Amphitryon, de Ignacio Padilla

Alguma insistência em ligar a literatura do mexicano Ignacio Padilla a Borges. Amphitryon realmente reune elementos borgeanos, embora se trate de uma novela, e os escritos de Borges sempre foram mais concisos e, provavelmente, mais elegantes. Mas as tramas entrelaçadas do livro de Padilla são também refinadas e, o livro, imperdível. Um trecho do que foi escrito no "Rascunho" a respeito:
"O que salta aos olhos é que ambos (falando de Padilla e do também mexicano David Toscana) oferecem uma moderada trama de mistério, que, aos poucos, transforma-se num simulacro de enredo policial, até porventura frustrar os leitores mais desejosos de uma conclusão simples, fácil, inequívoca. À semelhança de alguns contos de Jorge Luis Borges e Julio Cortázar, Padilla e Toscana parecem menos interessados em seguir as regras do jogo investigativo do que em suscitar questões referentes à identidade existencial e social do homem; menos aptos a entreter do que a fazer pensar; menos convictos, em suma, de que devem proporcionar soluções e não apenas formular as perguntas."


30/09/2010

De novo, Robbe-Grillet

"Ultimo escritor, estarei ausente. Uma vez mais, avanço, e a neve que tomba no meu caminho, ou o mar que sobe e invade de novo a areia dourada, apagará aos poucos os rastros dos meus passos. Dessa convicção, jorra uma espécie de angustia difusa, mas dela também provem minha alegria, minha força, minha violência. E também (por que não?) a possivel tranquilidade, a descontração dos dias felizes, no vinho, o esquecimento. O esquecimento do esquecimento do ser."
(ARG, Os Últimos Dias de Corinto)

06/07/2010

Narrando para viver: o Diário de Kafka

Ricardo Piglia , num ensaio do ótimo livro "O Último Leitor" teoriza : "Por isso Kafka escreve um diário: para ler novamente as conexões que não viu ao viver. Poder-se-ia dizer que escreve seu Diário para ler, deslocado, o sentido em outro lugar. Só entende o que viveu, ou o que está por viver, quando está escrito. Narrar não serve para recordar, mas para tornar visível. Para tornar visíveis as conexões, os gestos, os lugares, a disposição dos corpos". Interessante abordagem !
Agora, citando o próprio Kafka que relata no seu Diário a noite insone que lhe propiciou a primeira obra literária: "é incrível como podemos ousar tudo, como estamos preparados para todos os acontecimentos, mesmo os mais estranhos, uma grande fogueira em que as coisas morrem e ressuscitam" (Diário, 23 de setembro de 1912, quando escreveu "O veredito")

30/06/2010

Minimalismo + Geração Beat


Ouvindo (lembrando) "Hydrogen Jukebox", musica de Philip Glass e letras de Allen Ginsberg, uma combinação inusitada e inspirada. O conteúdo desta peça musical vai dos poemas mais pessoais de Ginsberg até suas reflexões sobre questões sociais: o movimento anti-militar, a revolução sexual, drogas, filosofia oriental, consciencia ambiental .
Segundo Ginsberg, o titulo Hydrogen Jukebox vem de um verso do poema Howl ......listening to the crack of doom on the hydrogen jukebox...' It signifies a state of hypertrophic high-tech, a psychological state in which people are at the limit of their sensory input with civilization's military jukebox, a loud industrial roar, or a music that begins to shake the bones and penetrate the nervous system as a hydrogen bomb may do someday, reminder of apocalypse."

22/06/2010

As Forças Estranhas

É o titulo desta coletânea de Leopoldo Lugones (1874-1938), considerado por alguns como o introdutor do fantástico na literatura latino americana. As narrativas são impregnadas de temas incomuns,  passam em épocas muito distintas e deixam uma marca definitiva do autor na história da literatura argentina. Foi um livro dificil de encontrar, garimpado na Feira do Livro de Porto Alegre em 2008...

07/05/2010

Extreme Future

Lendo "The Extreme Future", de James Canton, futurista, criador do Institute for Global Futures. Entre muitas considerações, o autor analisa cinco fatores que irão definir este "futuro extremo": velocidade, complexidade, risco, mudança e surpresa.

27/04/2010

Ordem ou Caos ?

No já histórico livro Caos de James Gleick (1987) , é citada uma frase de James Yorke que ainda faz muito sentido, mesmo depois da evolução inconteste da Teoria do Caos. Ele dizia então: "No passado o comportamento caótico foi visto em muitas circunstancias. Realizava-se uma experiencia fisica e a experiencia se comportava de uma maneira irregular. Tentava-se corrigi-la ou então ela era abandonada. O comportamento irregular era explicado alegando-se que havia ruido, ou apenas que a experiência não dera certo."

E então veio o Caos e percebeu-se que todas as experiencias estavam certas...

18/04/2010

Back to Borges

Nunca tive facilidade para decorar versos ou mesmo letras de canções. Um dos poucos textos que consigo citar de memória, curiosamente, é uma dedicatória de Borges. Ela prefacia a Historia Universal de la Infamia mas está escrita em ingles. É mais um exemplo da elegancia e da concisão deste autor, além de belíssima composição, literariamente falando:

" I offer her that kernel of myself that I have saved, somehow - the central heart that deals not in words, traffics not with dreams and is untouched by time, by joy, by adversities"

Quem não gostaria de receber tal tipo de dedicatória ?

13/04/2010

Rodopios

Minha filha faz 27 anos, alcançando metade da minha idade... Diante da sua vivacidade, energia e alegria nata, escrevo na mensagem de aniversário "daqui em diante, acho que você tem mais a me ensinar do que eu para você...vida que segue, rodopia e surpreende".

11/04/2010

Imaginarium...

Leste, Oeste, Norte, Sul
Onde o homem se situa
Quando o sol sobre o azul
Ou quando no mar há a lua...

Não buscaria conforto
Nem juntaria dinheiro
Um amor em cada porto
Ah, se eu fosse marinheiro
Não pensaria em dinheiro
Um amor em cada porto
Ah! se eu fosse marinheiro...

(da canção Maresia)

12/01/2010

Memorialismo vago ?

Para lembrarmos de Alain Robbe-Grillet bastaria o célebre roteiro de O Ano Passado em Marienbad, de Alain Resnais, mas ele nos deixou um grande legado de escritos do chamado nouveau roman... alguns destes textos brilhantes misturam autoreferencias de suas obras, ficção e memorialismo. Segue uma passagem de Os Ultimos Dias de Corinto onde Henri Corinto (um alter ego?) diz:
 "Sim, como tudo isso está distante! Longe no espaço, longe no tempo, longe no espírito. E sem dúvida a distancia é ainda aumentada, imagina, pela escolha que fiz de falar na terceira pessoa: parece tratar-se, agora, para mim de uma outra pessoa, cuja vida lembraria a minha por alguns detalhes secundários, contingentes ou aleatórios."

11/01/2010

Saudades de Tati

Revendo em DVD  Trafic - As aventuras de Monsieur Hulot no Trafego Louco (ver trecho no Youtube). Como nos demais filmes geniais de Tati, as gags desfilam elegantemente pela tela, nossos sentidos se sentem apurados de prazer pela leveza da sátira e pelo ingênuo lirismo das situações. Imperdivel.
Coetzee

Finalizo agora a leitura de Desonra de J.M.Coetzee, premio Nobel de literatura de 2003. Narrativa seca, a  trama passada numa Africa do Sul que está se recompondo é forte e o tom, pessimista. Na resenha do Observatório de Imprensa, lemos que "o tema do romance é o predomínio das incompreensões".
Como toda boa literatura, perturba e nos deixa inquietos. Leitura obrigatória entre os livros deste autor.

01/01/2010

Ano Novo

Nos versos da canção de Milton Nascimento, uma mensagem de Ano Novo:

São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem
Da partida...

A hora do encontro
É também, despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
 
Link: (Encontros e Despedidas)