30/05/2020

Automação residencial e videoconferencia em 1909?



O conto "A Maquina Parou" escrito em 1909 pelo ingles E.M.Forster mostra um ambiente futurista e narra o que seria uma chamada pela Internet de hoje com um tablet, entre a mãe e o filho que mora do outro lado da terra... uma antecipação que poucos poderiam imaginar no inicio do século XX...

Abaixo a introdução do conto, com alguns trechos detacados em negrito:


"Imagine, se puder, um pequeno quarto, hexagonal como a célula de uma colmeia. A iluminação não vem de alguma janela, nem de uma lâmpada e no entanto um brilho suave espalha-se por todo o lugar. Não existem aberturas para ventilação e no entanto o ar é fresco. Não há instrumentos musicais e no entanto, no instante em que se inicia esta minha reflexão, a sala pulsa com sons melodiosos.

Uma poltrona ocupa o centro do quarto e com uma mesa de leitura ao lado compõe toda a mobília. E na poltrona encontra-se uma massa de carne enfaixada — uma mulher, pouco mais de metro e meio de altura, rosto lívido como um fungo. É dela esse pequeno quarto. Uma campainha elétrica ressoou. A mulher pressionou um interruptor e a música cessou. “Acho que tenho de ver quem é”, ela pensou, resignada, e pôs sua poltrona em movimento. A poltrona, assim como a música, era acionada por um mecanismo e deslizou com a mulher para o outro lado do quarto de onde provinha o som inoportuno da campainha.

 “Quem é?”, perguntou. Havia um tom de irritação em sua voz, já fora interrompida várias vezes desde que começara a ouvir música. Ela conhecia milhares de pessoas, sob certos aspectos as relações humanas tinham-se desenvolvido enormemente. Mas quando ouviu a voz no receptor, seu rosto branco enrugou-se num sorriso e ela disse: “Muito bem, podemos conversar sim, vou me pôr em isolamento. Não creio que nada importante aconteça nos próximos cinco minutos — porque cinco minutos é tudo que lhe posso oferecer, Kuno, depois tenho de dar minha palestra sobre “A música no período australiano”. Ela pressionou o botão de isolamento, ninguém mais poderia comunicar-se com ela. Em seguida, acionou o comando de luz e o pequeno quarto mergulhou na escuridão.

Rápido!”, ela disse, de novo mostrando irritação na voz. “Rápido, Kuno, estou aqui no escuro perdendo meu tempo.” Mas passaram-se bem uns quinze segundos antes que a placa redonda que tinha nas mãos começasse a brilhar. Uma fraca luz azulada apareceu, aos poucos transformando-se num púrpura-escuro, e agora já podia ver a imagem do filho, que vivia no outro lado da Terra, e ele também podia vê-la."

"A Máquina Parou" foi incluido no The Science Fiction Hall of Fame que reúne os melhores contos de ficção científica do século passado.