Esculpindo o Tempo
Na aparência, seus filmes são herméticos, até difíceis de absorver numa primeira vista. No entanto, Tarkovski nos deixou um legado no seu livro Esculpir o Tempo (Martins Fontes) onde não só esclarece muitos destes pontos mais obscuros, como revela importantes conceitos por trás dos seus filmes de maneira didática e acessível.
Recomendo a leitura de um post de Milton Ribeiro que analisa o livro e a obra de Tarkovski. Deste texto, selecionei uma passagem emblemática:
"Mas por que lembro justamente de Tarkovski? Melhor dizendo: a que desejo me referir quando falo sobre ele? Creio que desejo apresentar um homem que podia expressar-se artisticamente escrevendo ou filmando, desejo mostrar um homem que não apenas conhecia profundamente cinema e literatura, mas também era conhecedor de música, arquitetura e artes plásticas. Era um homem raro e — nestes tempos de obtusa especialização — sinto falta destas pessoas multifacetadas, que podem nos surpreender ao dar convívio aos assuntos mais díspares dentro de um só cérebro, de um só livro ou de um só parágrafo."
É dificil escolher um filme de Tarkovski como o favorito. Cada qual tem seu encanto próprio, sua mensagem , além de imagens sempre perturbadoras. O Sacrifício (ver crítica) é o mais contemporâneo, seu legado final, lançado no mesmo ano de sua morte e que acabou reconhecido até em Cannes. Mas, a lista é repleta de filmes especiais: Stalker, Andrei Rublev, Solaris, O Espelho e Nostalgia...
Houve época em que era dificil assistir um destes filmes no Brasil exceto em pequenas mostras especiais, direcionadas para poucos aficcionados. Graças ao advento do DVD, todos estes filmes podem ser encontrados hoje sem dificuldade, permitindo assisti-los com calma e atenção.