30/05/2022

Uma visão apátrida da memória...

Julio Ramón Ribeiro, escritor peruano que ficou apartado do "boom" da literatura latina, tem um livro especialíssimo, onde recolheu textos esparsos e denominou de "Prosas Apátridas". Ao final de sua vida, recebeu o prêmio Juan Rulfo pela sua obra.  Folheando estas valiosas páginas, encontro mais uma visão (inédita e especialíssima) sobre a memória...

"Podemos memorizar muitas coisas, imagens, melodias, noções, argumentações ou poemas, mas há duas coisas que não podemos memorizar: a dor e o prazer. Podemos no máximo ter a lembrança dessas sensações, mas não as sensações da lembrança. Se fosse possível reviver o prazer proporcionado por uma mulher ou a dor causada por uma doença, nossa vida se tornaria impossível. No primeiro caso, se transformaria em uma repetição, no segundo, em uma tortura. Como somos imperfeitos, nossa memória é imperfeita e só nos restitui aquilo que não pode nos destruir." 

"Prosas apátridas" de Julio Ramón Ribeyro