31/12/2024

Borges e Nathaniel Hawthorne

Termino o ano lendo "A Letra Escarlate". Há algum tempo tinha este objetivo, agora atingido. Mas a leitura complementar foi muito mais incisiva e provocante... pois logo em seguida procurei o artigo (ensaio? conto?) "Nathaniel Hawthorne" de Borges, presente em "Outras Inquisições" que li em menos de uma hora...

Trata-se aparentemente de uma aula inaugural que Borges ministrou sobre a literatura norte-americana, e o fato dele ter escolhido Hawthorne como foco sempre me deixou curioso. Bastou ler estas poucas páginas para entender a visão diferenciada e contundente que Borges teve sobre toda a obra de Hawthorne (do qual a Letra Escarlate nem seria o mais importante, na visão dele).

Nestas breves linhas, pelo menos duas novas pesquisas iminentes surgiram: conhecer o personagem Wakefield (Borges discorre rapidamente sobre seu enredo) e também outros contos do autor, agora com um novo foco oferecido (como sempre) pela visão borgeana.

Trecho citado por Borges:

Li vários fragmentos do diário que Hawthorne escreveu para distrair sua longa solidão; referi, ainda que brevemente, dois contos; agora lerei uma página do Marble Faun para que vocês ouçam Hawthorne. O tema é aquele poço ou abismo que, segundo os historiadores latinos, abriu-se no centro do Fórum e em cujas cegas profundezas atirou-se um romano, armado e a cavalo, para aplacar os deuses.

Reza o texto de Hawthorne:

"Admitamos — disse Kenyon — que este seja o lugar exato onde se abriu a caverna, aquela em que o herói se atirou com seu bom cavalo. Imaginemos o enorme e escuro buraco, impenetravelmente fundo, com vagos monstros e rostos atrozes olhando cá para cima e enchendo de horror os cidadãos que em sua borda se debruçavam. Sem dúvida, estava cheio de visões proféticas (cominações de todos os infortúnios de Roma), de sombras de gauleses, de vândalos e dos soldados francos. Pena ter sido tapado tão depressa! Eu daria qualquer coisa por uma olhada.

"Penso — disse Miriam — que não há pessoa que não lance um olhar nessa fenda, em momentos de sombra e abatimento, ou seja, de intuição. 

"Essa fenda — disse seu amigo — era apenas uma boca do abismo de escuridão que está abaixo de nós, em toda a parte. A substância mais firme da felicidade dos homens é uma lâmina interposta entre esse abismo e nós e que sustenta nosso mundo ilusório. Não é necessário um terremoto para rompê-la; basta apoiar o pé. Devemos pisar com muito cuidado. Inevitavelmente, no final afundamos. Foi um tolo alarde de heroísmo o de Cúrcio, quando tomou a dianteira e se atirou nas profundezas, pois Roma inteira, como vemos agora, caiu aí. O Palácio dos Césares caiu, com um estrondo de pedras desabando. Todos os templos caíram, e depois atiraram milhares de estátuas. Todos os exércitos e os triunfos caíram, marchando, nessa caverna, e soava a música marcial enquanto se precipitavam..." 

23/12/2024

When Sunny gets Blue

Uma das musicas mais marcantes, tornou-se um "jazz standard" interpretado por diversos cantores (as) e músicos. 

Das versões mais recentes, fica a distinção para Norah Jones (assista no Youtube) 

Um caso perfeito onde a letra se conecta com extrema elegância ao tom da musica....

When Sunny gets blueHer eyes get gray and cloudyThen the rain begins to fallPitter patter, pitter patterLove is gone so what can matterNo sweet lovin' man comes to call
When Sunny gets blueShe breathes a sigh of sadnessLike the wind that stirs the treesWind that sets the leaves to swayin'Like some violins are playin'Weird and haunting melodies
People used to love toHear her laugh, see her smileThat's how she got her nameSince that sad affairShe's lost her smileChanged her styleSomehow she's not the same
But mem'ries will fadeAnd pretty dreams will rise upWhere her other dreams fell throughHurry, new love, hurry hereTo kiss away each lonely tearAnd hold her near when Sunny gets blue
Hurry, new love, hurry hereTo kiss away each lonely tearAnd hold her near when Sunny gets blue

Creditos:
Marvin Fisher (musica) e Jack Segal (letra)

23/11/2024

Memórias de um escritor inesquecível

 PALABRA DE BIOY, de Adolfo Bioy Casares y Sergio López ...

 


"Palabra de Bioy" é um livro que registra conversas dele com Sergio Lopez nos últimos anos de sua vida, ou seja entre 1991 e 1999.

Além das memórias de suas interações com Borges, em vários momentos Bioy demonstra sua erudição mas sempre acompanhada de muita sutileza e cordialidade.

Em 1995 Bioy participou do programa "Roda Viva" na TV brasileira, momento em que era considerado o mais importante escritor argentino em atividade. A transcrição desta entrevista pode ser vista aqui

12/10/2024

Celeste

 Uma descoberta recente... ouvindo a trilha "na bad" do Deezer - Stranger



08/07/2024

A arte de acumular livros

De um artigo de Alex Castro, retiro algumas mensagens:

"Conversei com a espanhola Irene Vallejo, autora do sucesso internacional O infinito em um junco: a invenção dos livros no mundo antigo (Intrínseca, 2022). “Ainda faz sentido comprar livros?”, perguntei. Vallejo se confessa surpresa com a ideia de que um novo formato ou suporte deve necessariamente substituir ou tornar obsoletos os anteriores.

Em vez de celebrarmos o enriquecimento das alternativas, criamos uma falsa competição. Um audiolivro pode ser ouvido na academia ou enquanto se varre a casa. Os livros eletrônicos são úteis em viagens ou residências no exterior. Os livros de papel oferecem a experiência estética do design, das ilustrações e dos mapas; da dimensão tangível do cheiro, do som, do tato; permitem dedicatórias do autor ou de quem presenteia. Além disso, estudos indicam que se retém mais a informação na leitura em papel. “Como leitora, me sinto uma felizarda por ter tantas opções”, diz a autora.

E sobre o acúmulo exagerado: estamos comprando livros de mais? “As bibliotecas nascem quando a fome por livros é maior que o ritmo de leitura”, diz Vallejo. “Comprar livros é uma forma de afirmar a esperança que viveremos o suficiente para ler tudo que nos interessa. Uma ilusão, claro. Mas uma forma de otimismo.”

03/05/2024

Paul Auster nos deixou

Mais um icônico escritor nos deixa. Desta vez, Paul Auster, que colocou defintivamente NovaYork no ambiente literário com inumeras e especialíssimas obras literárias...

Do seu ultimo livro (ainda não publicado no Brasil), retiramos esta frase no contexto deste blog:


"Por que nós lembramos de certos momentos de nossas vidas e esquecemos completamente de outros? Do que são feitas nossas histórias pessoais?

19/04/2024

As histórias são nossas memórias...


Trecho de "A Cidade das Palavras" de Alberto Manguel, tratando sobre a memória, bibliotecas e a leitura:

"...as histórias concentram nosso saber e lhe dão forma narrativa, de modo que, por obra das nuanças do tom, do estilo,e da peripécia, tentemos não esquecer o que aprendemos. As histórias são nossas memórias, as bibliotecas são os depósitos dessa memória, e a leitura é o oficio por meio do qual podemos recriar essa memória, recitando-a, glosando-a, traduzindo-a para nossa própria experiência, permitindo-nos construir sobre os alicerces do que as gerações passadas quiseram preservar".