Em Memórias de Além-Túmulo, diz Chateabriand:
"As recordações que despertam em minha memória me subjulgam com sua força e seu volume. E, contudo, o que elas são para o resto do mundo?"
"As recordações que despertam em minha memória me subjulgam com sua força e seu volume. E, contudo, o que elas são para o resto do mundo?"
Vale a leitura... uma visão sobre a atual indiferença às narrativas, proporcionado principalmente pela proliferação de conteudos digitais. Uma pergunta feita no texto:
"Como pode ser que estejamos tão vazios que nem em nossos sonhos somos capazes de inventar nosso próprio mundo?"Estamos em 2025 e na midia só se fala de IA (Inteligencia Artificial). Desde canais voltados à tecnologia até àqueles que tratam de assuntos triviais e rotineiros, este é o assunto da vez...
Mas é nestes momentos que devemos lembrar de quem já tratava disto (e com muita capacidade) há muito tempo atrás... 1968 pode ser?
Este ano foi o lançamento do incrivel filme de Stanley Kubrick com roteiro em parceria com Arthur C. Clarke, um dos mestres da ficção científica.Vamos lá:
No filme, o "mundo melhor" que se está buscando estaria em Júpiter. Então, "para chegar à esta meta, construiu-se uma espaçonave controlada por um supercomputador, o HAL 9000, ou simplesmente Hal para os cinco membros da tripulação. Hal foi programado para pilotar a nave até o destino final, com instruções específicas de eliminar qualquer obstáculo. Máquina de inteligencia artificial, Hal é capaz de conversar e interagir como um ser humano e chega mesmo a simular emoções humanas. Mas, ao contrário dos humanos, Hal é supostamente incapaz de cometer erros.
Passado algum tempo, Hal anuncia que há algo errado no sistema de comunicação da nave. Um dos tripulantes, Bowman, sai para consertar o defeito, mas não encontra nenhum. Na Terra, os controladores concluem que Hal deve estar errado. Bowman e outro tripulante resolvem desligar o computador para evitar mais problemas, mas apesar de seus cuidados, Hal descobre o plano e elimina o parceiro de Bowman e corta o suprimento de oxigênio dos outros membros da tripulação. Forçado a enfrentar Hal sozinho, Bowman se dá conta que o "erro" de Hal fora premeditado. Instruido a levar a nave ao seu destino "custasse o que custasse", Hal concluira que o maior obstáculo à missão era a falibilidade da inteligencia humana: como os programadores não haviam inserido em sua "mente" a proibição de matar a tripulação, Hal logicamente decidira eliminar a fonte de todos os erros possiveis: os próprios seres humanos." (*)
E então? Ficção ou bem perto da nossa realidade de hoje?
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(*) texto retirado de "A Cidade das Palavras" de Alberto Manguel
Trata-se aparentemente de uma aula inaugural que Borges ministrou sobre a literatura norte-americana, e o fato dele ter escolhido Hawthorne como foco sempre me deixou curioso. Bastou ler estas poucas páginas para entender a visão diferenciada e contundente que Borges teve sobre toda a obra de Hawthorne (do qual a Letra Escarlate nem seria o mais importante, na visão dele).
Nestas breves linhas, pelo menos duas novas pesquisas iminentes surgiram: conhecer o personagem Wakefield (Borges discorre rapidamente sobre seu enredo) e também outros contos do autor, agora com um novo foco oferecido (como sempre) pela visão borgeana.
Trecho citado por Borges:
Reza o texto de Hawthorne:
"Admitamos — disse Kenyon — que este seja o lugar exato onde se abriu a caverna, aquela em que o herói se atirou com seu bom cavalo. Imaginemos o enorme e escuro buraco, impenetravelmente fundo, com vagos monstros e rostos atrozes olhando cá para cima e enchendo de horror os cidadãos que em sua borda se debruçavam. Sem dúvida, estava cheio de visões proféticas (cominações de todos os infortúnios de Roma), de sombras de gauleses, de vândalos e dos soldados francos. Pena ter sido tapado tão depressa! Eu daria qualquer coisa por uma olhada.
"Penso — disse Miriam — que não há pessoa que não lance um olhar nessa fenda, em momentos de sombra e abatimento, ou seja, de intuição.
"Essa fenda — disse seu amigo — era apenas uma boca do abismo de escuridão que está abaixo de nós, em toda a parte. A substância mais firme da felicidade dos homens é uma lâmina interposta entre esse abismo e nós e que sustenta nosso mundo ilusório. Não é necessário um terremoto para rompê-la; basta apoiar o pé. Devemos pisar com muito cuidado. Inevitavelmente, no final afundamos. Foi um tolo alarde de heroísmo o de Cúrcio, quando tomou a dianteira e se atirou nas profundezas, pois Roma inteira, como vemos agora, caiu aí. O Palácio dos Césares caiu, com um estrondo de pedras desabando. Todos os templos caíram, e depois atiraram milhares de estátuas. Todos os exércitos e os triunfos caíram, marchando, nessa caverna, e soava a música marcial enquanto se precipitavam..."